terça-feira, 29 de março de 2011

II.2 –
das mágoas, estresses

(leia a versão completa do blog disponível no tópico inicial)

Desde os 20 anos trabalhei em vendas como autônomo.  Sem salário mensal e seguro, sempre me estressei muito com o trabalho e nunca comprei nada a crédito. Só trocava um carro ou algo de maior valor, quando minha reserva bastava para um ano de despesas previstas e algum imprevisto.
No ímpeto da juventude, e até já na fase mais madura, sempre ‘briguei’ por meus direitos, chegando certa feita, quando ainda não era advogado, a gastar dois mil ‘’dinheiros’’ para não pagar 500, que não eram devidos.
Ignorei a máxima que ensina: “o que vou falar/fazer vai me ajudar? Vai ajudar alguém? Se não for ajudar, a mim ou ao terceiro, melhor ficar quieto!”
Por volta de 1983 iniciaram-se as brigas mais intensas que culminaram com separação da esposa em torno de 1990. A pressão era tanta, que cheguei à blasfêmia de em oração pedir minha morte.  (Logo, até que um câncer foi pouco!)
“Cuidado com o que desejas, pois podes ser atendido”!
Por volta de 1997, numa sexta feira indo para Ubatuba, já na Ayrton Sena, recebi um telefonema de minha secretária informando que determinada intimação processual fora publicada naquele dia.
Como o judiciário, ao contrário do que alegam os desconhecedores do direito (mesmo os juízes, desembargadores e ministros),    ‘aperta’ nos prazos o advogado, posto que o prazo inicia-se no primeiro dia após publicação e acaba no 5º dia seguinte, ignorando os dias em que o fórum está fechado, como sábados, domingos, feriados e não feriados emendados, tive de pegar o primeiro retorno e passar o fim de semana dedicando-me ao processo. (hoje você protocola uma petição e a demora média para ser juntada aos autos é de 4 meses. Aí, ainda por cima, é comum o juiz despachar sem ler)
Pensei então em alguma fonte de renda alternativa à advocacia: uma sobrinha casara-se com um cabeleireiro de uma famosa rede dedicada ao público classe “A”. Algum tempo depois propus a ele abrirmos um salão franqueado da marca.
Para tanto, acabei cedendo às imposições absurdas da franqueadora e de meu próprio sobrinho temporário, e, para abrir um salão num importante Shopping na zona Sul da Capital paulista, tive de com ele, ‘engolir’ seu irmão e seu tio como sócios.
Por paradoxo que pareça, infelizmente em 8 meses recuperei o capital investido, o que levou-me a partir para outros salões. O entusiasmo foi tal, que cheguei a ter credenciamento para abrir em Porto Alegre, Jundiaí, São Bernardo do Campo, e acabei ainda atendendo a um pedido da marca e assumindo um salão no Campo Belo, que estava em vias de quebrar.
Mas... logo as crises começaram! Daí desisti de Porto Alegre e de Jundiaí, mas infelizmente já havia assumido Campo Belo e montado São Bernardo do Campo.
Em sua maioria (claro que tem raras exceções), os cabeleireiros são seres de outro planeta:  sem maior cultura, ganham um salário desproporcional ao mercado, chegando a faturar na média mais de R$ 7.000,0 por mês.  Se julgam estrelas e têm seus chiliques.  As manicuras, idem, ganhando até R$ 2.000,00, irrigam a maior rede de fofocas, conhecida no meio como ‘radio peão’.
Meus ‘eleitos’ sócios, não tiveram a visão de enxergar que algo lhes caíra dos céus, porque sem colocar um centavo, tornaram-se detentores de 66% de um dos salões que poderia ser o maior da famosa rede.
Um bebia, comia banana na recepção e trocava-a de mão para cumprimentar a cliente. Chegou a arrancar um telefone para jogar numa recepcionista que saíra com outro no fim de semana. O outro assediava as funcionarias; cobrava por fora na própria bancada por serviços prestados, sem se dar conta que ensinava os profissionais como fraudar o caixa. Exigiam distribuição de um valor mensal, nunca entendendo que nem sempre o lucro era igual. 
E o pior de tudo, é que contavam com o apoio na visão budista do titular da marca, de que eles que precisavam de toda ajuda, apoio e compreensão.
O estresse foi total: de outro lado, a fiscalização dos impostos e de outro ainda a famigerada inJustiça do Trabalho, querendo reconhecer direitos trabalhistas, como férias, 13º, FGTS, horas extras, etc, a quem já ganhava 50% da receita bruta.
Enfim, foi um período de quase 10 anos até eu conseguir vender, pela metade do valor investido, o ultimo salão e me livrar deste ‘carma’ que foi esta experiência, naquilo que tantos tem a vã idéia de algo glamoroso e rentável.
Após pouco tempo você constata que trabalha, arrisca seu patrimônio, distribui o faturamento entre os profissionais, os impostos e o shopping. E, na ponta do lápis, verifica que precisaria de 120% do faturamento para ter lucro.
Por outro lado, e concomitantemente, como advogado, sempre tive a péssima postura (para mim, e ótima para os clientes), de “comprar a briga”, envolvendo-me emocionalmente na questão, levada como se minha fosse.
Daí, todo o estresse da vida dupla, de um lado como advogado, de outro, como empresário, elevado a mil por os problemas domésticos, não poderia desembocar em outro ponto que não fosse o câncer, no meu caso, de próstata, até pelo fator genético masculino e DNA (pai).

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